LUCUBRAÇÕES
MACABRAS
“O
causo de Joana três beiços e o castigo de Ogun”
Capitulo
7
Logo a correria começou e Sinhá
Joana já não tinha sossego, corria pra venda e direto pra casa de Berto e
muitas vezes dormia por lá mesmo. Tudo estava correndo bem e ela estava
satisfeita até porque Seu Cristóvão e Miguel Grosso tomaram a frente e Filó
estava fazendo santo de Nagô, estava tudo uma maravilha. Enfim depois de muitos dias numa quinta feira
Ògún saiu e deu nome conforme a tradição nagô, logo voltou e tomou Hum Ògún
estava lindo e todos muito contentes.
Mais um pouco Filó estaria em casa
e tudo voltaria ao normal. O Orupin e o panã foi feito, mas ai Ògún exigiu que
Filó ficasse os três meses no terreiro até cair o Kele, Sinhá Joana se
contrariou mas fazer o que, se Ògún queria assim, assim seria. Mais três meses
de sacrifício indo a casa de Hunberto e fazendo a venda, mas ela iria aguentar
tudo em nome de Ògún, desse jeito as coisas foram se arrumando e o tempo passou
rápido. Ao final o preceito dos três meses afinal Filó iria pra casa já sem o
kele e podendo afinal dar uma ajuda pra ela e a deixar descansar um pouco
depois de tanto “Lufa Lufa”.
Seu Miguel foi e limpou a casa,
bateu folhas e defumou deixou tudo nos conformes pra Filó chegar e a casa estar
arrumada, no outro dia foi com José pegar Filó. Foi uma alegria a chegada de
Filó, sinhá Joana não cabia em si, recebeu Filó no portão e ajudou ela com as
tralhas, esteira, pinico, caneca, panelas e lençóis e tudo mais que uma iawo
tem que ter ao fazer santo. Filó ficou de pé na sala esperando uma iaba pra
arrumar a esteira e trazer agua pra ela, mas não tinha nenhuma iaba na casa ela
sabia e então seu Miguel que muito embora fosse de “Tempo”, originalmente era de Yemanja portanto era uma
Iaba de modo que arrumou as esteiras e trouxe agua pra iawo chegar de verdade
em casa. Não havia muito a conversar pois sinhá Joana sabia exatamente como
seria o preceito de Filó até completar um ano de santo de modo que despediu-se
e deixou as duas tranquilas pra por os assuntos em dia.
Com Filó em casa tudo voltou a
rotina, sinhá Joana com as vendas e Filó cuidando da casa todos estavam felizes,
Filó era muito dedicada e toda sexta feira ia pro terreiro e voltava sempre
domingo a tarde pra casa, sempre ao chegar ia cuidar de Ògún no atinxã como
parte de seus preceitos pois Ògún assim tinha exigido dela, porem Filó tinha um
dengo especial com “Ajunsun” e se desdobrava em cuidados com esse Orisa/ Vodun.
A vida transcorria tranquila até que sinhá Joana começou a sentir o peso da
idade e Filó começou a fazer a venda no lugar de sinhá Joana até que ela não
conseguia mais fazer nada em casa, a idade tinha chegado e era a hora de Filó
assumir tudo deixando sinhá Joana descansar coisa difícil pois as vistas dos
amigos não davam tempo e ela não deixava de ser uma grande anfitriã sempre
querendo fazer tudo mesmo sem poder, coisa que a irritava muito, mas fazer o
que, era a vida. Filó cumpria rigorosamente suas obrigações e já era uma
“Ebomi”. Filó se desdobrava com seus mais velhos, não deixava de estar presente
no Terreiro de Dewanda e do velho Cristóvão por quem tinha um carinho especial,
pois ambos eram de Ògún, no pantanal era amiga de Lindinha, Milton entre outros
mais velhos e na casa de Dewanda era muito querida, era o xodó de Obassa. Era
amicíssima de Odé Toni da Ilha Amarela
não faltava a um Olorogun da velha senhora, sempre estava na festa de Esu de
Djalma onde era amiga de Mirteia e de Pão duro. Sempre que podia ia à macumba
de Jorge Buda que era um conselheiro de chegada. A vida de Filó era tranquila quando
um dia sinhá Joana anoiteceu e não amanheceu. De certa forma já era esperado,
mas nunca entendido, sinhá Joana estava com a idade muito avançada e a
“tinhosa” não deixa escapar ninguém por mais que seja como sinhá Joana de modo
que aconteceu o inevitável. Filó avisou os camaradas e preparou tudo para as
exéquias da velha, coisa que ela queria que fosse de primeira com tudo que a
velha queria. Imediatamente as amigas chegaram junto e os camaradas foram a
luta nada podia faltar no Axexe da velha que seria de 7 dias de acordo com a
posição dela. O velório foi realizado na sala maior da casa. O Ile Sain já
estava pronto, foram 7 dias de muita atividade não dando tempo pra Filó se
“amuar”, o banzo passou longe até que no dia do carrego Filó se deu conta que
ficaria sozinha, uma cantiga a fazia tremer sempre que Milton Melodia cantava:
Oloro
e iku aiye
Oduro
iku aiye
Iku
lopa la baba
Iku
ko ma kekere
Oduro
iku aiye
O axexê
Comandado por seu Cristovão e
tocado por seu filho o mestre Milton Melodia como de praxe começou de Efon. A
voz do velho deu partida.
Aisunji
Aisunji
oo
Omo nile
wa
Oloroke
Asé ebora......
Filó se deu conta da morte de sua
camarada, a emoção chegou perto e as lagrimas caíram, amparada por Sinhá
Lindinha e Sinhá Ilza de Oxala Filó se aguentou mas a sucessão de cantigas a
deixavam cada vez mais triste e Milton cantou:
Axexe
axexê omo
Axexê
mojuba o.....
As lagrimas toldarão sua visão
sempre a primeira cantiga é emblemática. E na hora que cantou Angola que é bem
explicita a coisa pegou, o ritmo e canto são empolgantes mesmo sendo triste. Na
hora que mestre Milton cantou:
Chora
papai
Chora
mamãe
Chora
Joana
Que foi
pro afa/ aku
Filo desmaiou nos braços de Iya
Ilza, essa cantiga é emblemática. Sinhá Lindinha tomou abença a aos mais velho
e cantou o Zerin, sua especialidade:
Zerim
na cota moda moré
Cota
moda moré
É um
ozan
omorodé
lozam
Mean......
Assim foram os sete dias, filo
aguentou e ao final do axexê de rastro tudo estava em paz e todos se foram
cuidar de seus afazeres, enfim Filó se sentiu sozinha em casa, agora sua, a velha antes de morrer tinha
deixado tudo pra ela com o compromisso dela continuar com o legado do velho Oba
karé Jébu.
No próximo capitulo o epilogo do
causo.
Ogun se faz presente e o castigo
vem a cavalo.
Baba Gilberto de Esu