LUCUBRAÇÕES
MACABRAS
“O
causo de Joana três beiços e o castigo de Ogun”
Capitulo
4
Obs: No terreiro
de Humberto dos trezentos.
Antes da chegada
de Filó Humberto mandou arrumar uma esteira e um lençol e uma quartinha no
barracão, pra colocar ela e ver realmente o que teria acontecido se era santo
mesmo ou outra coisa. O carro chegou e Parrudo avisou seu Humberto que veio
rapidamente com outras pessoas da casa pra ajudar a carregar Filó até o
barracão. Deixou Filó na esteira coberta pelo lençol e foi pra sala onde estava
Sinhá Joana em desespero.
- Bem minha
velha, vamos a “vaca fria” Filó já esta aqui, é pra recolher mesmo?
- Olhe seu
Minino Humberto, veja ai e me fale, deixo ela ai aos seus cuidados e vou ver o
que posso fazer por fora.
- Va ver sua vida e suas venda eu
vou botar um jogo pra ver as coisas e mais tarde passo em sua casa pra
conversarmos. Antes de sair ao longe Sinhá Joana ouviu:
Bolo
bolo na kuatezo
Inkosi
e
Bolo
bolo na kuatezo
Inkosi
e
Ao ouvir se deu
conta que Filo ia ser Muzenza e não Iawo, não faria Ogun e sim Nkosi, assim pesando
e satisfeita se foi para casa ver o que poderia arrumar pra Ogun de sua
camarada. Preocupada chegou em casa, de antemão sabia que estaria sozinha
durante o período de recolhimento de Filo então não podia dormir no ponto,
tinha que fazer a venda toda sozinha. Entrou em casa e lembrou que era dia de
ir ao Atinxã de Ogun. Primeiro sentou-se na sala descansou o corpo e em seguida
pegou uma vela, dendê e vinho. Sentada pensando em sua camarada Filó, as
lembranças vieram a sua cabeça e a levaram a um tempo que não tem mais volta. Sinha
Joana viu-se de “surran” na esteira, o barulho do Aja e a voz do velho:
Vodunsi
imanado zereii
Io lenuncio
lenuncio
É no
xauere
Vodunsi
imanado Ogun abei
Io lenuncio
lenuncio
É no
xauere
As lagrimas desceram molhando suas
faces ebúrneas, ela sentiu vodun Leba passar apressado em direção do seu “atinxã”,
o frio perpassou sua coluna, todos os vodun estavam presentes naquele momento
com sua filha abençoada. Sinhá Joana, acordou do torpor, abriu os olhos e viu
que estava em sua casa, sacudiu os ombros, bateu o pé três vezes no chão e pôs
a mão no chão levou a cabeça e aos poucos foi levantando pra ir ver seu amado
Ogun, incontinente atravessou a pequena sala, passou pela cozinha saindo no
quintal, parou na porta olhando em volta, olhou a velha jaqueira o atinxã de
Ajunsun, o Akoko rodeado pelos Peregun onde ficava escondido o velho “parabélo”
embaixo de muito mariwo que representava Ògún, pegou um velho apoti e foi-se
acercando de Ògún, botou o apoti no chão perto do atinxã, sentou-se devagar e
escorregou aos poucos pondo os joelhos no chão, acendeu a vela. Sua memoria
fervilhava de velhas lembranças, O Velho Cristóvão de Ògún ajoelhou-se ali e
cantou:
Ogun
ala koro
Ki sajo
ki so e
A rewa
rewa
Ki sajo
hi so e
Assim pensando pegou o dendê e aos
poucos foi regando Ògún, pegou o vinho fez o mesmo e lembrou-se do dia que Tata
Lesengue foi a sua casa e viu Ògún e cantou:
É Nkosi
mukunbi
Tara
messa dengue
Go e
ae ae
Go e
ae ae
Go e
ae
É nkosi
mukumbi
Tara
messa kala
Com senzala
é nkosi
Com senzala
é nkosi
Com sere
manda kala
Com senzala.
Nessas alturas o vinho esborrava
pelas bordas do alguidar e ao cair molhou seu pé fazendo com que Sinhá Joana
acordasse dos devaneios, sacudiu a cabeça saindo estado de letargia, olhou o
assentamento do Orixá desculpando-se pelo exagero. A cantiga do recolhimento de
Filó estava em sua cabeça como “visgo de jaca” o fato de Filó fazer santo de Angola
a incomodava, afinal ela era de uma rama importante de Jeje Mudubi e sua
camarada seria “Muzenza”, nesse momento sacudiu a cabeça e deu de ombros, e dai
o importante é que ela vai fazer seu santo.
Continua no próximo capitulo.
Baba Gilberto de Esu
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