LUCUBRAÇÕES MACABRAS
“O causo de Joana
três beiços e o castigo de Ogun 6
O
“bobolojô de Filó
Sinhá Joana
acordou mas cedo e foi cuidar de seus afazeres, primeiro foi ver Exu e em
seguida seus atinxã e em especial o velho Ògún de seu ancestral pedindo a ele
que apurasse os olhos de seus velhos amigos que viriam para o “bobolojô”.
Satisfeita foi pra cozinha preparar uns quitutes e refrescos, a cerveja muito
embora tivesse trincando só poderia ser degustada depois da mesa resolvida.
Tudo pronto sentou-se em sua espreguiçadeira e se deixou voltar ao passado,
relembrado os que se foram e pedindo mentalmente forças pra continuar nessa
vida sacrificada. Felizmente tinha uma saúde de ferro e aguentava o tranco, seu
devaneio a levou a casa do Velho tio Cipriano Abede, uma casinha acanhada,
postigo sempre aberto e sala acolhedora muito embora ranzinza o velho Abede
recebia todos muito bem e sempre tinha um bom “vinho de obi” feito por ele
mesmo. O vinho era enterrado na lua minguante e desenterrado na cheia, era sem
igual, sempre sentado em sua cadeira de balanço fumando seu charuto. No canto
da sala ficava seu Ògún, um monte de ferros velhos e dois facões sempre
afiados. Abede era o único naqueles tempos que sabia sacrificar cachorro pra
Ògún e era só ver em cima dos ferros as cabeças testemunhas silenciosas dos
cachorros que entraram em sua porta por curiosidade, segundo o rastro da
mistura de dendê com mel que os atraia até os pés de Ògún. Parecia real ela
ouvia o velho cantar:
Olo moro koro
komo de moro
Moye ina ina
Mode mata. mata
ki mi matara
Aro ki mi marora.........
O velho porrete
caia no toutiço do bicho que munhecava na frente de Ògún e ai o facão caia de
uma vez só, via-se um sorriso de satisfação no canto da boca do velho,
Ogunheeeeeeeeeee Moyeeeeee.
Nesse momento o
cachorro da vizinha latiu e ela acordou do devaneio levantou e foi à cozinha
tomar um café, estava nervosa com o que viria. Abaixou pôs a mão no chão e
levou a cabeça tomando bença mentalmente ao velho Abede.
Ainda era cedo o povo
só viria a tarde, ela tinha muito tempo pra ver coisas que muito embora que
tivesse revisto, veria de novo, coisa de velho. Olhou em volta e em cima do
fogão, viu a moqueca deixada de ontem, pegou a panela satisfeita e pensou, tem
muito molho vou fazer uma moqueca de ovos logo depois almoçou, como de costume
botou uma cadeira perto da porta da cozinha onde batia a solda tarde e ficou
sentada pensando e “esquentando o sol”, ali se deixou esperando seus camaradas
chegarem. Por volta de duas horas ouviu o chamado. O de casa, ela se deu conta
que tudo iria começar, avexou-se e, levantou e gritou “O de fora” bate a mão na
tramela e entra.
Era Dewanda e
Cristóvão que chegavam juntos no (aero willis) verde de Dewanda sempre dirigido
por José fiel companheiro de Dewanda. Eles entraram falando animadamente e
rindo sentaram-se na sala. Sinhá Joana apressou-se em trazer agua fresca,
ofereceu e todos tomaram e começou a troca de benças entre eles nesse interim
eis que chega Humberto, pronto estavam todos. Humberto chegou sentou-se tomou
sua agua e também tomou abença a todos e enfim todos perguntaram:
- De noticias de
filó ?
Berto coçou a
cabeça olhou a todos. Sinhá Joana olhava diretamente em seus olhos aflita com o
silencio grave de Berto. Afinal Berto falou. Filó esta bem sim, a ajibonã esta
cuidado dela e mandei suspender a continuação dos preceitos até ver o que vamos
decidir hoje no “Bobolojô”.
Seu Cristóvão
impaciente falou. Vamos ver isso logo, deixei Lindinha tomando conta no
Pantanal junto com Milton, mas não cofio muito, só vim porque Dewanda me
explicou o assunto.
Sinhá Joana já
tinha a mesa pronta e todos se dirigiram a outra sala onde uma mesa redonda
deixava todos a vontade. Cada um sentou-se e estabeleceu-se a discussão sobre
quem faria o jogo e como não poderia deixar de ser seu Cristóvão era o mais
velho então caberia a ele começar.
O velho Cristóvão ajeitou o tabuleiro a sua
frente e todos colocaram suas mãos nas bordas fazendo suas orações em africano
para que Esu revelasse o que e como deveria ser feito o santo de Filó.
Terminada as orações seu Cristóvão pegou os búzios com as duas mãos e sacudiu
pedindo a Esu e todos os Orixás respondessem as questões apresentadas e deixou
cair no tabuleiro.
Ejionile
Awulele se apresenta
“Cumpra
com seu sacrifício e serás bem sucedido”
O velho declarou alto e todos e
botaram as mãos no tabuleiro e gritaram “Epa Alafia”, a seguir o Velho separou
os búzios e perguntou sobre a questão da nação e os búzios deixaram ver que Ògún
era Nagô. O Velho então passou o tabuleiro para cada um dos participantes para
que confirmasse o que ele tinha visto.
Dewanda jogou e confirmou e todos botaram
as mãos no tabuleiro gritando “Epa alafia”
Berto jogou e confirmou e todos botaram
as mãos no tabuleiro gritando “Epa alafia”
Sinhá Joana jogou conformou e todos botaram as mãos no tabuleiro gritando “Epa
alafia”
Todos se levantaram e se cumprimentarão
saudando Ògún que chegava em suas vidas através de Filó.
O velho Cristóvão pigarreou e todos
prestaram atenção, ele então falou. A iyawo vai ser feita na casa de Humberto e
todos nós vamos pra lá e cada um dará um pouco do seu saber, todos concordam?
Humberto dono da casa deixou todos
a vontade e proclamou. Como seu Cristóvão
era mais velho e era de Ògún seria ele que daria o “tô” e perguntou se todos
concordavam? Todos aceitaram e ficarão satisfeitos de modo que as datas que
Humberto marcou para as obrigações estavam de pé não haveria mudanças.
No próximo capitulo 7 : Filó faz Ògún
Baba Gilberto de Esu
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