LUCUBRAÇÕES MACABRAS
“ A Multa “
Vivia eu em
Nilópolis por volta da década de 60. Perto de onde eu morava tinha uma casa
onde morava um Ogâ chamado Lélinho, era da casa do finado Siríaco. Lélinho era
pintor e sua esposa fazia escovas de enceradeiras embaixo de uma velha
mangueira que havia na frente de sua casa e onde também nos sentávamos pra tomar
umas e jogar conversa fora.
Eu e Lélinho
nos tornamos amigos e sempre que tinha uma macumba pra tocar eu ia com ele como
um aprendiz, o que na realidade eu era. Lélinho era um exímio tocador e todos
os pais de santo de Nilópolis e arredores o procuravam pra tocar suas festas, e
lá ia eu junto.
Muito embora
Lélinho não fosse da turma da Central do Brasil onde nos reuníamos, ele era
conhecido por todos. Quem viveu os áureos tempos dos grandes candomblés no Rj.
sabe do que estou falando. Na antiga Central do Brasil do lado esquerdo de quem
entrava, tinha uma ilha onde se fazia uma roda de capoeira. Por ali passavam
todos e deixavam noticias dos candomblés ou das macumbas que precisavam de tocadores,
além de ser o ponto de encontros dos camaradas. Eu trabalhava em Copa e na
volta pra casa, passava todo dia no ponto pra saber das noticias ou jogar uma
conversa fora. Todos ao Pais e Mães de Santo passavam por lá e deixavam
noticias, punham um dinheiro na cabaça que ficava do pé do tabaque ou trazia
uma garrafa e deixava.
“Voltando a vaca fria” uma ocasião tinha festa
de seu Ague de benu benu no terreiro, e Lélinho me convidou e assim la se
fomos, ele era muito popular e por ser bom tocador logo foi chamado pro “kutitó
de Léba” por la ficou até que mandou alguém me chamar e la fui eu pro “kutitó”
também. Depois de algum tempo era chegada a hora de começar e fomos todos para
o barracão, Lélinho foi para o couro e ai, me sentei próximo pra “bizoia” e
“botar reparo” no toque e nas danças. Começou o toque cantando pra Bombo Gira e
ai.
Mestre Lélinho
tocava animadamente quando de repente o tabaque rodopiou em sua mão e parecendo
ter vida foi parar caído no meio do barracão. Foi uma correria imediata, cobre
com pano branco, pega agua e cruza, despacha a porta, em fim foi um pandemônio,
até que uma Makota Sóróró, pegou Lélinho e levou para um quarto que dava
entrada para o barracão. Todos nos ficamos esperando pra saber o que iria
acontecer. Depois de cruzado com agua e despachada a porta, levantaram o
tabaque e ficamos em suspense no barracão sem saber o que acontecia.
Lélinho saiu
do quarto cabisbaixo me fez um sinal e foi direto pra porta saindo do terreiro,
fui atrás sem saber até que Lélinho entrou na birosca se aboletou numa cadeira
e pediu uma cerveja, sentei ao lado e perguntei, e ai? O que aconteceu?
-Giba meu
camarada to lascado, fiz merda e seu Ague me pegou no pulo e as ebomi deitaram
no meu pé e falaram a multa.
- Me fala
direito, o que você fez afinal de contas?
- Hoje pela
manhã eu dei uma bimbada e não tomei banho, troquei de roupa e vim direto pro candomblé, peguei
no tabaque e ai acontece, vc viu entendeu?
- Entendi, ou
seja, você ta fudido, mas e agora ?
- Tenho uma
multa pra pagar e não tenho dinheiro e nem sei como pagar, tenho que mandar
fazer 7 “inhame assado” e botar uma “pataca” em cada um pra Ogun. Onde vou
arrumar 7 “patacas” pra dar a Ogun? To fudido e mal pago.
Estávamos
tomando a cerveja e Lélinho cabisbaixo e se lastimando, xingando a própria
burrice quando entre uma ebomi e vem direto na mesa.
-
Lélinho você não tem jeito. Viu ai o que você arrumou por não poder ver uma (
peluda) se lascou e agora o que você vai fazer pra pagar a multa?
-
Olhe minha velha, eu estou duro. Não tenho nenhum trabalho em vista. Não sei
mesmo, mas tenho que dar um jeito.
-
As meninas gostam muito de você e vão te ajudar com os inhames, mas com as
patacas ta difícil. Vc tem que ir à Senhor dos Passos , na igreja de São
Elesbão Africano, bem na porta tem um velho feito de santo, ele tem um
tabuleiro cheio de moedas velhas, vintém, pataca, quem vai fazer ébó pra Exu
compra com ele. Ele é de Ogun, vai la e conte sua historia, quem sabe ele fica
com pena e faz um preço bom.
-
Olhe minha véia vou lá amanha, tenho que fazer um inhame por semana, vou pedir a
Exu pra me ajudar.
Enfim tomamos nossa cerveja e nos
mandamos pra Nilópolis. Fui pra minha casa e falei com o Buda que gostava muito
de Lélinho, contei o causo e Jorge tinha umas patacas no pé de Xango e falou.
Vai la e chama ele agora. Sai correndo fui à casa dele e falei com ele que veio
até a casa de Jorge. Entrou meio desconfiado tomou abença a Jorge com a cabeça
baixa e esperou Jorge falar.
Continua no próximo capitulo, aguardem
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