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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Lucubrações macabras
Rupturas
Após mais de meio século vivendo e observando minha religião, algumas coisas me dão medo, as rupturas dos rituais consagrados pela ancestralidade e nos dias de hoje mudados em função de mitos ou lendas inexistentes. Inventados e sem nexo os então rituais antigos realizados nas casas consideradas matrizes com um proposito definido são atualmente trazidos a outros terreiros que não tem na verdade nada a ver com ele, são feitos apenas por imitação ou demonstração de um saber que não tem.
Até os dias de hoje não consigo entender a famigerada roda de Xango que tornou-se obrigatória nos terreiros de Sp, e mais ainda nos dias atuais por ter sido mudada repentinamente. Vi em dois ou mais terreiros ela sendo cantada do meio para o fim ou mesmo ao contrario, portanto se ela não tinha significado agora tem muito menos. Porque tal mudança? Quem determinou essa mudança e por quê?
Durante os anos de convivência com Baiano, ouvi muitas historias dos mais antigos e uma em especial sobre o ritual das “Quartinhas de Odé” no Gantois, segundo ele um ébó exigido pelo jogo em função de problemas no terreiro, o mesmo foi realizado e a casa voltou ao normal e por isso desde então esse ébó era feito todo ano. Hoje vemos esse mesmo ritual sendo feito em diversos terreiros. Qual seria a função dele em outros terreiros que não passaram pelo mesmo problema? Teriam essas pessoas autorização ou mesmo propriedade para fazer tal ritual? Não tenho autoridade e bem estou julgando ninguém, mas fica a pergunta.
Sempre ouvi que tudo que se refere ao inhame pertence a Oxala, tanto que na origem ( Yorubaland) o festival dos inhames novos é feito para OBATALA, mas isso não impede que outros Orixa também sirvam-se do mesmo como iguaria de forma diferente. Ogun com seu inhame assado na brasa, Exu com o inhame em pedaços, cada Orixa prefere o inhame a sua moda, mas ninguém nega que o grande comedor de inhame é Osala.
O IPÉTÉ
 Oxun tem predileção pelo inhame no ritual mais importante em sua homenagem o Ipété, elaborado e distribuído durante sua festa mais importante que começa com a festa das Iyabas e termina no presente as aguas. Pelo menos 16 dias a ela dedicados, desde o começo dos rituais até o presente das aguas. Nos dias de hoje em muitos terreiros a festa das Iyabas esta sendo esquecida em função de festas especificas da Iyaba dona do terreiro e o Ipété antes longo hoje restringe-se a um final de semana
Mesmo sendo um tradicionalista, ortodoxo e rançoso consigo entender algumas mudanças em prol da modernidade, no entanto algumas ficam atravessadas na garganta e são difíceis de digerir.
UM CAUSO
Em um pretenso Ipété o babalorixa me sai com uma cantiga nunca por mim ouvida até aquele momento, e ai pra surpresa minha ouço a mesma em um vídeo aqui postado, na verdade não conheço a cantiga toda, mas é, mais ou menos assim:
Ipété ogun já
Na na ni na ni na na
Ipété ogun já
Incontinente ele tira uma senhora na sala com uma vasilha de barro na cabeça, após rodear em volta do barracão a mesma senta-se em uma cadeira e varias meninas com folhas de banana cortadas nas mãos vão a vasilha retirando porções do “Ipété” e distribuindo aos presentes na folha de banana. Logo após a farta distribuição do “acepipe” o baba manda um grupo de tocadores tocar uma “vamunha”  a senhora levanta-se com a panela na cabeça e dirige-se ao local de onde tinha saído, talvez o quarto de santo.
Preocupado pesquisei a cantiga e nada encontrei, mas como tinha acesso a pessoas de perto do terreiro, perguntei a uma delas que me respondeu o seguinte:
- Porque  Ogun Já na cantiga do Ipété?
- Ogun já é o dono do inhame e seu nome tem que ser inserido na cantiga, o senhor não sabia? O mito é bem claro Ogun já é o dono do inhame por isso:
Ipété Ogun já.
Depois de ouvir essa resposta nada, mas me resta a perguntar ou tergiversar com a minha informante.
Ogun me acuda Já e não depois, grande parte de minha vida foi dedicada ao culto e aos rituais de Oxun, aja visto que meu pai de santo Diniz era de Oxun, meu avô Baiano tinha dedicação extrema a Oxun, portanto participei e conduzi os rituais de Osun desde a festa das “yabas” o Ipété e o presente de Oxun. Nunca me senti tão ofendido como nesse dia e depois com essa explicação esdruxula.
Meus amigos e amigas leitoras, não saber não é vergonha, mas fazer uma coisa dessas no terreiro de alguém que confiou em você não só é uma vergonha como uma farsa.
Baba Gilberto de Esu.
O Indignado.


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