Sem querer
plagiar Luther King, em meados de 1978 depois de meu primeiro contato com
Nigerianos notadamente meu professor Prof Ajibola Aiyemi. Eu tinha “Um
Sonho” ir à Nigéria, conhecer o país que mesmo longe, aqui no Brasil me
deu cultura, religião, literalmente me salvou das ruas e me fez um homem. Era
meu sonho ir a Nigéria e ai estou em 1986, sentado no staff club da
Universidade Obafémi Awolowo of Ifé calmamente tomando uma cerveja com amigos
quando sou apresentado a Alabi, filho da Yalode of Osogbo.
Antes alguns
antecedentes: Segundo consta minha mãe biológica D. Dinorah seria de Oxun. A
primeira pessoa a lavar minha cabeça no Rio de Janeiro foi D. Mansa de Oxun.
Meu pai de Santo Diniz morto precocemente era de Oxun. Casei-me com uma mulher
de Osun D. Wanda e por isso sempre tive e tenho um carinho especial por Oxun,
mesmo sendo Oga de Omolu.
Voltando a
1986 em Ile Ifé. Após
um dia cansativo na Universidade eu, Eluiemi,Akambi e Olalekan fomos ao staff
club bebericar umas cervejas. Sentamos em pequenas mesas baixas próprias para
tal mister e conversávamos animadamente, eu por ser brasileiro era o alvo das
atenções, todos queriam me cumprimentar e eu me virava de todo jeito falando
(iorubes/mimiques) mas conseguia me comunicar com todos principalmente no que
tange a pedir mais uma, (É jówó, uan bier.) e ai sou apresentado a Alabi o
filho da Yalode de Osogbo, ao apertar sua mão amistosa Osun me veio a cabeça e
incontinente disse:
-Gostaria de ir a Osogbo ver
Osun, como poderíamos ver isso?
Fácil , falou ele, o que você quer exatamente?
-Quero ir a Osogbo e dar um
presente a Osun.
-Que tipo de presente retrucou
Alabi ?
-Não sei, mas você pode me dizer
o que devo, dar e quanto custa. Todos me olharam surpresos e Eluiemi tomou a
iniciativa junto com Akambi de fazer as tratativas para a pequena viagem.
Combinamos então de nos encontrar no dia seguinte no staff club onde Alabi
traria as respostas. Tratamos então de tomar nossa “Harpor” a melhor cerveja
que bebi na Nigéria e fomos dormir.
Mais uma vez o
dia seguinte foi longo e muitas vezes tedioso mas finalmente chega a noite e lá
vamos nós para o staff club. Chegamos sentamos e pedimos a cerveja conversando
sobre as atividades do dia e esperando Alabi chegar. Não demorou muito e la
estava Alabi que veio imediatamente nos
cumprimentar, sentou-se a cerca, pegou um copo serviu-se e todos o olhavam como
que perguntado.
- E ai meu?
Alabi calmamente me
olhando falou. Chief Gilbato, falei com minha mãe e ela falou que você vai
gastar N$ 330.00 (Nairas) e Oxun terá tudo que você pensou para presentea-la.
- Você pode gastar essa quantia?
Imediatamente consultei meu bolso e tinha muito mais que
N$330.00 (Nairas). Separei o dinheiro e estiquei a mão para dar a Alabi que não
aceitou, pediu que eu desse o dinheiro a Akambi para contar e entregar a ele
como testemunha do que estava acontecendo. Achei estranho isso porem fiz o que ele pediu. Akambi contou o dinheiro
e entregou a Alabi que aceitou e me falou, agora sim temos o testemunho de uma
pessoa honesta para que nada saia errado em nosso trato.
E quando você quer
ir, para que eu deixe tudo pronto ?
Consultei rapidamente
Eluiemi e Akambi e marcamos na terça feira aja visto quer o congresso
encerraria no domingo, na segunda descansaríamos e na terça iriamos a Osogbo. Tudo
acertado, fomos as Harpor que estavam realmente melhores que no dia anterior
mais geladas.
Combinamos com
nosso chaufer Senhor Morakinho, um Hausa muito legal que nos acompanhava em
nossas incursões fora de Ile Ifé. Na terça logo cedo, eu, Wanda, Walter, Iya
Bida, Beti Tonhão e Ada estávamos prontos para a viagem, logo o veiculo chegou
com Eluiemi e ai começou a briga entre Walter de Ogun e uns Hausas que chegaram
logo cedo para cobrar de Walter patranhas feitas na ultima viagem dele a Nigéria.
Foi um fordunço mas depois de muita conversa e já atrasados conseguimos sair de
Ifé rumo a Osogbo onde éramos esperados.
Apesar das peripécias conseguimos chegar a Osogbo sãos e
salvos. Nos dirigimos ao templo do mercado perto do palácio do Ataoja, que não
estava na cidade e por isso não fomos ao palácio. Visitamos o templo do mercado
praticamente inexistente, em ruinas e fomos diretamente ao templo de Osun onde
a Iyalode e Alabi nos esperavam. Entramos no grande salão onde já estavam a Iyalode
e sua Otun sentadas em uma grande esteira na porta fechada do quarto de Osun. Nos
posicionamos em esteiras espalhadas, D.Bida por sua idade não conseguia e
colocamos ela em um banco junto com Wanda que a servia, e aguardamos os
acontecimentos. Alabi então veio falar comigo que todos nós deveríamos comprar
Obi para o jogo que a Iyalode iria fazer individualmente e separar um dinheiro
para o jogo. Assim fizemos. Todos compraram seus obi e a Iyalode então começou
seu jogo. Após diversas jogadas ela se pronuncia perguntando quem de nós era de
Oxun?.
Todos em volta se
olharam com a pergunta mas Ada se apresenta. Alabi mandou ela ajoelhar-se
frente a Iyalode entregando os Obi e o
dinheiro e esperar. Iyalode jogou e olhando Ada falou, voce não é de Osun, Ada
levantou-se e a Iyalode continuou a interrogar, quem é de Osun ?
Beti então se
apresentou e aconteceu o mesmo. Nesse interim D.Bida fala a Wanda, minha filha
você é de Osun va até lá.
Wanda entãp dirige-se
a Iyalode, ajoelha e entrega o obi e o dinheiro e espera com a cabela abaixada.
A Iyalode joga e exclama em jubilo “Ore re yeo” voce é de Osun.
Nesse momento Alabi
fala a Iyalode que Wanda é minha esposa e que eu era o chief Gilbato. A Iyalode
então manda Wanda se afastar e pede que eu me aproxime. Vou até ela ajoelho,
entrego os Obi e o dinheiro, ela então joga pra mim e fala a Alabi e Eluiemi.
Ele é o Oba(rei) e deve presidir o presente. Alabi me fala para aguardar que o
sacrifício a Osun vai começar,mas antes eu e Wanda deveriamos ir a um quatro
onde eu deveria lavar a vagina de Wanda com um “omi éró”. Vamos, constrangidos,
faço o que me foi mandado e voltamos. Alabi então abre a porta e traz um grande
receptáculo de madeira redondo ricamente trabalhado põe na frente da Iyalode
que levanta a tampa e la estava o assentamento de Osun Osogbo, Alabi e outro
rapaz trouxeram diversas galinhas que foram sacrificadas naquele Igba e depois
nos trouxe “adu” e serve a todos a comida preferida de Oxun. Nesse momento
acontece algo extraordinário, la fora o sol era de rachar mamona mas como num
passe de magica o tempo fecha e começa a chover torrencialmente.Todos começam a
gritar ,Orere yeo, a chuva era o sinal que todo o sacrifício estava aceito por
Osun. Todos rejubilam-se. Alabi pega os pequenos tambores com seu amigo e toca
alegre, e ai a Iyalode nos chama a realidade. Sou chamado de novo e a Iyalode
me fala que Osun quer vir para o Brasil com a gente. Então falo que ela deve ser entregue a Wanda
por ser a Iyalorisa da casa, então a Iyalode chama Wanda e dá a ela novo nome,
Osun Muiywa. Rapidamente Alabi pega uma pequena cabaça e coloca vários “ota”
entre outras coisas dentro e entrega a Wanda que os guarda. Tivemos que ir ao
templo de Osun no Rio Osun para lavarmos as cabeças e sermos abençoados por
Osun.
Tudo isso
parece ser muito simples principalmente aos olhos dos outros que não foram
agraciados por Osun, mas realmente não era, porem nem eu mesmo me dava conta da
importância devida, afinal eu concretizará meu sonho, tinha feito meu “Ébó” a
Osun minha mãe.
Foi Eluiemi quem me
chamou a realidade e fomos a um canto conversar, mas o assunto era muito
complexo e deixamos para conversar no outro dia em Ifé, posto que ainda
teríamos uma longa viagem de volta.
Oga Gilberto de Esu
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